Extendemos a expo Noturno até 20 de fevereiro, devido ao enorme sucesso Veja um pouquinho do que rolou na reabertura da expo que contou com a presença da banda Fábrica de Animais e com o "Stand up Comedy" de Márcio Américo
A primeira impressão foi a do garoto com chapéu esquisito egresso de um desenho animado. É isso aí. O Carlos Carah parecia o Zeca Urubu (tão ligados no desenho do Picapau, né?) com aquele chapéu coco preto, sempre armado com uma indefectível cerveja e sempre bem acompanhado de sua linda namorada e alguns sujeitos tão estranhos quanto ele. Ele sempre tava lá no nosso teatro assistindo as nossas peças. A gente nunca se falou muito naquela época, mas eu simpatizava com o Garoto que parecia o Zeca Urubu. Ele parecia sempre interessado e eufórico, embora toda aquela euforia não disfarçasse uma melancolia desorganizada escondida no pior lugar do seu olho, que é justamente onde costuma ficar nossa melancolia. Depois eu descobri que ele tinha um opala preto. E pra mim, caras com opalas pretos só podem ser péssimos ou ótimos sujeitos. Muito tempo depois ele me disse que tinha feito um desenho pra mim. Com nítida desconfiança e estudado ceticismo pedi pra ele me mostrar. Qualquer dúvida foi dar uma volta do outro lado da Praça Roosevelt assim que ele me mostrou o desenho. Era bom pra caralho. No ato em que vi o desenho já disse a ele que aquilo era capa de livro. E foi. A capa do meu livro "Atire no Dramaturgo". Aí entrei no fotoblog dele e fui me surpreendendo cada vez mais. Tinha uma porrada de desenhos insanos, sempre com aquele detalhe trágico no traço. Às vezes é só uma fogueira adormecida no olho, uma picada de formiga na ponta do dedo do pé. Algo que você nem nota di prima, mas que tá lá, como um sinal de "perigo" piscando, mas sem fazer nenhum barulho, sem tocar nenhum alarme. Os desenhos de Carlos Carah são assim, não fazem alarde e parecem morar numa casa mal assombrada, dessas que as crianças freqüentam só pra virar lendas no bairro. Assim como o próprio artista que é um misto de The Riddler com vilão de desenho animado, e no bairro já contam algumas histórias sobre ele. Carlos Carah traz a perturbação e aquele cheiro indisfarçável de encrenca em cada novo desenho. Carlos Carah não tem medo de o tirarem de maluco, desde que ele possa ligar o seu opala preto e sair na madrugada com Bonnie Prince Billy ou Bo Diddley no último volume, um cigarro na boca e uma cerveja dançando no painel como um anti-herói de nouvelle vague. Às vezes parece que é mais um segredo. Às vezes parece que é uma explosão. Mas é a arte que vai exauri-lo. Toda a cerveja do mundo não vai pará-lo. Nem toda a polícia. Nem toda religião ou qualquer céu azul no horizonte. Ele vai continuar acelerando se for só isso. O que vai fazer com que ele freie minutos antes do abismo é justamente a arte que ele produz, no seu traço com detalhes trágicos. É o que vai perpetuar sua crença inabalável nos amigos, nas mulheres e nos seus amados lps antigos. Meu amigo Carlos Carah é a próxima lenda do bairro. Vocês ainda vão ouvir falar muito dele. Mário Bortolotto – Novembro de 2.008
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